Ex-governador de PE lidera Banco do Nordeste por um ano e destaca desafios na revitalização da instituição. Concurso com 410 vagas fortalece seu papel.
Paulo Câmara, ex-governador de Pernambuco, lidera o Banco do Nordeste (BNB) e comemora um ano à frente em março. Em entrevista à Folha de Pernambuco, ele discute a gestão, planos de expansão e não descarta retorno à política em 2026, se convocado por Lula. Seu foco é impulsionar o crescimento e a relevância do BNB, que destinará R$ 11 bilhões para infraestrutura do Novo Pac.
Como avalia seu primeiro ano como presidente do Banco do Nordeste em março? O que destaca em sua gestão? “É crucial contextualizar. No governo anterior, havia a visão de que bancos de desenvolvimento não eram prioritários, inclusive com debates sobre a extinção de bancos públicos regionais como o BNB. Isso gerou desânimo. Com a chegada do presidente Lula, destacando a importância dos bancos públicos, havia grande expectativa de valorização. Essa foi nossa meta.” Essa missão veio do presidente Lula? “Sim, a missão foi fazer o banco crescer. Em 2023, aceleramos financiamentos, especialmente em microcrédito pelo Agroamigo e Crediamigo, e focamos em micro e pequenas empresas. Isso nos levou a recordes: R$ 2,1 bilhões e crescimento de 27% nas contratações, totalizando R$ 58 bilhões, impulsionando todos os estados a alcançarem suas metas.”
O BNB retomou o protagonismo? “Sim, o banco está novamente em destaque nas discussões nacionais. Somos chamados constantemente para contribuir com as políticas públicas do Governo Federal. O presidente Lula lançou o histórico Plano Safra, e o BNB teve participação significativa, tanto no agronegócio quanto na agricultura familiar. Além disso, fomos convocados para financiar obras no Nordeste com o Novo Pac, destinando cerca de R$ 11 bilhões, principalmente para infraestrutura em energias renováveis e saneamento básico. Em 2023, alcançamos um nível importante de financiamento para a região, e em 2024 seguiremos nessa trajetória.” Há planos para ampliar o número de agências? “Sim, lançamos um concurso público com 410 vagas para reforçar as agências no interior do Nordeste, visto que não havia concurso há mais de dez anos. Queremos melhorar o atendimento, principalmente para o microcrédito, que atende um público vulnerável.” Como as pessoas podem encontrar esses pontos de atendimento? “Vamos ampliar a divulgação em vários meios, incluindo estruturas municipais e unidades próprias, como contêineres, para facilitar o acesso. Em Pernambuco, a meta é dobrar o número de pontos de atendimento.” Há projetos para melhorar o acesso aos serviços por meio da inteligência artificial? “Sim, buscamos constantemente melhorar a interação e os sistemas utilizados pelo banco. Queremos desenvolver ferramentas de fácil uso, visando atrair mais empreendedores.”
Desde que assumi a presidência do BNB, estou sempre disponível para ajudar Pernambuco. No entanto, ainda não tive nenhum encontro com a governadora, Raquel Lyra. Estou à disposição, mas depende da vontade das pessoas. A superintendência em Pernambuco tem dado todo o suporte necessário ao Estado. Como pernambucano e presidente do banco, estou à disposição de todos os estados, e vários governadores me procuram quando necessário.
Quanto ao meu futuro político, minha trajetória é incomum. Fui governador por oito anos em um momento desafiador para o Brasil. Agora, minha missão é fazer o banco crescer. Em 2023, avançamos, e pretendo continuar em 2024 e 2025. Em 2026, avaliarei as circunstâncias.
Mas você pensa em ser candidato? Não posso descartar nada. Até 2026, meu foco é estar aqui, ajudando o presidente Lula e o Brasil. Reconstruir o país não é fácil após quatro anos difíceis. O importante é servir ao Brasil neste momento de reconstrução.
Com essa proximidade com o presidente Lula, se o senhor for voltar para a vida política vai precisar de um partido. Poderia ser o PT esse partido?
Aí é uma discussão mais para frente, vai depender da conjuntura. Vai depender, inclusive, se eu vou ter algum papel, se eu vou ser convocado para alguma missão. A gente vai deixar essa discussão realmente para 2026. Eu nunca gosto de antecipar as coisas porque tudo acontece muito rápido e muda muito. Então, vamos esperar. O trabalho de reconstrução, de diminuir desigualdades no Nordeste, de fazer o banco ter um papel relevante, é desafiador.