No último domingo, um aeroporto na cidade de Makhatchkala, no sul da Rússia, viu suas operações interrompidas quando um grupo de centenas de pessoas invadiu o espaço, alegou a autoridade de aviação, a Rosaviatsia. Relatos, fotos e vídeos nas redes sociais indicam que o motivo da invasão era um protesto contra a chegada de judeus israelenses à região.
Makhatchkala é a capital da República do Daguestão, uma região onde o islamismo é predominante. A Rússia é composta por 85 unidades federativas, incluindo 22 repúblicas criadas para representar áreas de nacionalidades não russas.
Segundo a agência oficial russa Ria, os relatos indicam que o grupo, de número indefinido, estava ameaçando os israelenses que chegariam durante a noite, horário local. Eles ocuparam o estacionamento e partes internas do aeroporto, levando ao redirecionamento dos voos programados.
O rabino-chefe na Rússia, Berel Lazar, apelou aos cidadãos, independentemente de sua religião ou crenças, para que evitem que “extremistas destruam as pontes de amizade entre os diversos povos na Rússia”.
Uma pesquisa do centro independente Levada revela que 71% da população russa se identifica como cristã ortodoxa, liderada no país pelo patriarca Cirilo, um aliado do presidente Vladimir Putin. Além disso, 5% da população se declara muçulmana.
Autoridades locais informaram que abriram uma investigação sobre a organização de tumultos em massa proibidos e que todos os participantes serão detidos e responsabilizados. A secretaria do Interior local afirmou que aqueles que incitaram “discórdia interétnica” também serão responsabilizados criminalmente.
O aeroporto foi evacuado horas após o início da invasão, mas um centro de operações foi estabelecido nas proximidades para monitorar os desdobramentos. Os judeus israelenses que desembarcaram na região foram mantidos seguros por forças de segurança até serem transferidos para a capital Moscou em outra aeronave.
A Rússia, assim como outras ex-repúblicas soviéticas como a Ucrânia, é um dos principais locais de emigração de judeus para Israel, em um processo conhecido como “aliá”. Este movimento foi intensificado em 2022, em meio à Guerra da Ucrânia.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, se pronunciou sobre o episódio, acusando a Rússia de propagar ódio contra outras nações, incluindo o antissemitismo. Ele também apontou o chanceler russo, Serguei Lavrov, por fazer comentários antissemitas no passado.
A região que foi parte da União Soviética e do Império Russo tem um histórico de episódios de violência contra judeus, incluindo os “pogroms” que ocorreram antes da Segunda Guerra Mundial. Esses eventos trágicos continuam a lançar uma sombra sobre as relações interétnicas na região.