Presidente do Brasil, que cumpriu a tradição de abrir a Assembleia Geral das Nações Unidas, afirmou que a política externa brasileira será marcada pelo diálogo respeitoso com todos.
Começaram nesta terça-feira (19), em Nova York, os debates da Assembleia Geral das Nações Unidas. Como determina a tradição, o primeiro a discursar foi o presidente do Brasil, Lula chamou atenção para a crise climática e cobrou um compromisso internacional para acabar com a desigualdade.
Lula saiu do hotel de manhã e, ao chegar à ONU, encontrou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. Como de praxe, o Brasil foi o primeiro país a discursar. Lula começou o discurso de 21 minutos prestando condolências às vítimas das catástrofes naturais recentes: o terremoto no Marrocos, a tempestade na Líbia e o ciclone no Rio Grande do Sul.
“Há 20 anos ocupei essa tribuna pela primeira vez e disse, naquele 23 de setembro de 2003, que as minhas primeiras palavras diante desse parlamento mundial sejam de confiança na capacidade humana, de vencer desafios e evoluir para uma forma superior de convivência. Volto hoje para dizer que mantenho minha inabalável confiança na humanidade. Naquela época, o mundo ainda não havia se dado conta da gravidade da crise climática. Hoje, ela bate às nossas portas, destrói nossas casas, nossas cidades, nossos países, mata e impõe perdas e sofrimento aos nossos irmãos, sobretudo aos mais pobres”, declarou.
“Os dez maiores bilionários possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade. O destino de cada criança que nasce neste planeta parece traçado ainda no ventre de sua mãe. A parte do mundo em que vivem seus pais e a classe social à qual pertence sua família irão determinar se essa criança terá ou não oportunidades ao longo da vida. Para vencer a desigualdade, falta vontade política daqueles que governam o mundo”, afirmou.
O presidente falou da importância da democracia no Brasil.
“Se hoje retorno na honrosa condição de presidente do Brasil, é graças à vitória da democracia em meu país. A democracia garantiu que superássemos o ódio, a desinformação e a opressão. A esperança, mais uma vez, venceu o medo. Nossa missão é unir o Brasil e reconstruir um país soberano, justo, sustentável, solidário, generoso e alegre. O Brasil está se reencontrando consigo mesmo, com nossa região, com o mundo e com o multilateralismo. Como não me canso de repetir, o Brasil está de volta. Nosso país está de volta para dar sua devida contribuição ao enfrentamento dos principais desafios globais. Resgatamos o universalismo da nossa política externa, marcada por diálogo respeitoso com todos”, disse.
Ainda falando sobre o Brasil, disse que vai dar ênfase ao combate a desigualdade de gênero, ao racismo, à homofobia e à violência contra as mulheres.
Ao falar de meio ambiente, Lula disse que seu governo reforçou ações na Amazônia e destacou que, em 2023, o desmatamento na Amazônia caiu 48%, e voltou a cobrar que países ricos financiem a preservação ambiental.
“Ao longo dos últimos oito meses, o desmatamento na Amazônia brasileira já foi reduzido em 48%. O mundo inteiro sempre falou da Amazônia. Agora, a Amazônia está falando por si mesma. São as populações vulneráveis do sul global as mais afetadas pelas perdas e danos causados pela mudança do clima. Os 10% mais ricos da população mundial são responsáveis por quase a metade de todo o carbono lançado na atmosfera. Nós, países em desenvolvimento, não queremos repetir esse modelo”, afirmou.
Lula fez uma defesa do multilateralismo na relação entre as nações e criticou a distribuição de empréstimos feitos pelo FMI, comparando valores dedicado à Europa e à África.
“O princípio sobre o qual se assenta o multilateralismo – o da igualdade soberana entre as nações – vem sendo corroído. Nas principais instâncias da governança global, negociações em que todos os países têm voz e voto perderam fôlego. Quando as instituições reproduzem as desigualdades, elas fazem parte do problema e não da solução. No ano passado, o FMI disponibilizou US$ 160 bilhões em direitos especiais de saque para países europeus, e apenas US$ 34 bilhões para os países africanos. A representação desigual e distorcida na direção do FMI e do Banco Mundial é inaceitável”, disse.
Lula disse que neoliberalismo agrava a desigualdade.
“O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias. Seu legado é uma massa de deserdados e excluídos. Em meio aos seus escombros surgem aventureiros de extrema direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas”, declarou.
Foi aplaudido quando defendeu a liberdade de imprensa e citou o jornalista australiano Julian Assange, que está em preso em Londres.
“É fundamental preservar a liberdade de imprensa. Um jornalista, como Julian Assange, não pode ser punido por informar a sociedade de maneira transparente e legítima. Nossa luta é contra a desinformação e os crimes cibernéticos”, afirmou.
O australiano Julian Assange, citado por Lula, é o fundador do WikiLeaks, uma plataforma que publica documentos confidenciais. Assange é acusado formalmente nos Estados Unidos de obter e divulgar sem autorização informações secretas. Ele está preso no Reino Unido e aguarda extradição.
Depois de citar outros conflitos no mundo, Lula entrou no tema da guerra entre Ucrânia e Rússia. Pediu diálogo, mas mais uma vez não condenou a Rússia pela invasão, e propôs a reformulação do Conselho de Segurança da ONU.
“A guerra da Ucrânia escancara nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU. Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz. Mas nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo. Tenho reiterado que é preciso trabalhar para criar espaço para negociações. Estabilidade e segurança não serão alcançadas onde há exclusão social e desigualdade. A ONU nasceu para ser a casa do entendimento e do diálogo”, afirmou.
Na sequência, Lula disse que sanções unilaterais causam grande prejuízo à população dos países afetados, criticou o embargo a Cuba e declarou que o Brasil seguirá denunciando o que chamou de medidas sem amparo na Carta da ONU.
No fim do discurso na ONU, Lula retomou o tema da desigualdade. Disse que ela deve inspirar indignação e ser o motor da ação, e que deve ser a maior batalha da ONU e de todos os países membros.
“Somente movidos pela força da indignação poderemos agir com vontade e determinação para vencer a desigualdade e transformar efetivamente o mundo a nosso redor. A ONU precisa cumprir seu papel de construtora de um mundo mais justo, solidário e fraterno”, disse.No fim do discurso na ONU, Lula retomou o tema da desigualdade. Disse que ela deve inspirar indignação e ser o motor da ação, e que deve ser a maior batalha da ONU e de todos os países membros.
“Somente movidos pela força da indignação poderemos agir com vontade e determinação para vencer a desigualdade e transformar efetivamente o mundo a nosso redor. A ONU precisa cumprir seu papel de construtora de um mundo mais justo, solidário e fraterno”, disse.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky , assistiu ao discurso sem aplaudir – nem no início nem no fim.
Lula deixou a ONU momentos depois de discursar. Mais tarde, teve quatro reuniões com outros líderes mundiais. Entre eles, o primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.